domingo, 13 de junho de 2010

Matéria no Portal Decoração

Escrevi uma matéria que talvez vocês gostem. É sobre a cozinha e como ela mudou e se tornou o ambiente mais importante da casa ao longo do século XX.

Quem quiser ler acesse:

http://www.portaldecoracao.com.br/decoracao/Portugues/detNoticia.php?codnoticia=137

Obrigado pela leitura, sempre!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Alma cosmopolita

Conhecida pelo seu intenso movimento na madrugada paulistana, a rua Augusta é palco de boa convivência entre várias tribos urbanas


Por Léo Marques

Sob o clarão do sol, ela é mais uma rua movimentada de São Paulo, com seus edifícios residenciais e lojas de variados comércios, como roupas, móveis, brinquedos, papelarias e supermercados. Mas é no luar que sua verdadeira face aparece, com suas luzes de néon, com o brilho dos faróis.

Caetano que me desculpe, mas se hoje São Paulo pudesse se resumir a uma rua, ela com certeza seria a Augusta. Dividida pela avenida Paulista, ela nasce no centro, próximo a Praça Roosevelt, e segue pelo Jardins até a rua Estados Unidos. O local reune tipos tão diferentes de estilos, classes sociais, tribos urbanas que ninguém consegue passar incólume a sua diversidade cultural e sexual.

“Ela consegue conectar o lixo ao luxo, reunindo várias tribos nos seus pouco mais de três quilômetros”, resume Facundo Guerra, um dos sócios do Clube Vegas, presente na região há quatro anos. O empresário, que costuma caminhar por toda a Augusta, tem em mente a pluralidade da rua. “Se você passar por ela, desde o início, encontra os gays, as prostitutas, os emos, os punks e os roqueiros, depois, mais acima, vê os ‘intelectualoides’ nos sebos e cinemas do Espaço Unibanco; atravessando a Paulista você vê os ‘irmãos’ do Sara Nossa Terra, depois os burocratas dos edifícios comerciais e os fashionistas próximos das alamedas Lorena e Oscar Freire”.

A mais paulistana das ruas de São Paulo nasceu como uma simples trilha por volta de 1875. Na época, ela ligava a entrada da Chácara do Capão, hoje rua D. Antônia de Queiroz, à Avenida Paulista. Sua verdadeira vocação começou a aparecer já no final da década de 1950, quando ela representou para os jovens paulistanos o glamour e a diversão, com suas motos envenenadas e seus embalos de sábado à noite.

O lado do centro, o mais movimentado e heterogêneo, é conhecido como Baixo Augusta. A famosa casa de shows Studio SP, antes situada na Vila Madalena, se mudou em 2008 para a rua. “Com o crescimento do Studio e da cena da música ao vivo autoral que acabamos aglutinando, procuramos um lugar maior, de melhor acesso e que tivesse mais a cara de São Paulo e a Augusta sempre foi isso”, conta Alexandre Youssef, um dos donos da casa de show.

Depois de duas décadas de ostracismo, a partir de 2005 a rua reassumiu a sua vocação. O Clube Vegas é apontado por muitos como um dos responsáveis por trazer de volta os jovens da classe média hype paulistana. “Trouxemos um público que não freqüentava a região por medo, porque achava a Augusta violenta, o que não é verdade. Acho que o clube foi um catalisador desse movimento”, diz Guerra.

Nos últimos quatro anos, importantes bares, boates e casas de show começaram a se instalar na região e atrair diferentes públicos. O lazer cultural é completado por cinemas e teatros. Tudo isso atraiu as mais diferentes tribos urbanas, como os emos, punks, roqueiros, prostitutas, homossexuais e mauricinhos.

Apesar de reunir tribos tão diferentes, a boa convivência se manteve. O delegado titular da 4º DP da Consolação, Roberto Naves, comprova isso. “A gente não tem visto muito roubo e os crimes violentos são pontuais. A segurança é sensação. Em termos de incides, a violência hoje na Augusta é tolerante” afirma.

“A partir do momento que nós assumimos a delegacia, passamos a aumentar um pouco a preocupação com a rua Augusta, recebendo também o apoio da prefeitura e da polícia militar”, conta o delegado.

Os seus 16 mil metros quadrados estão o tempo todo vivos. O que mantém todo esse movimento mesmo às duas da madrugada de uma terça-feira, por exemplo, são as opções noturnas de lazer. Baladas como o Vegas, a OUT, a Inferno e a Roxy mantêm viva a alma cosmopolita do Baixo Augusta.

O lado nobre do logradouro enriquece ainda mais a diversidade cultural e social da rua. Um dos locais mais representativos desse trecho é a Galeria Ouro Fino. Berço de novos estilistas, esse centro de compras já presenciou diversas etapas da Augusta.

Mônica Araújo, 20 anos como sindica da Galeria e dona de duas lojas, fala com paixão dos tempos áureos de quando começou a trabalhar na Ouro Fino, há 38 anos. “Meu sonho é ver a rua Augusta como era nos anos 70. Ela tinha glamour. Hoje está mal cuidada, o pessoal põe lixo na rua e quando chove desce tudo. Ela devia seguir o exemplo da Oscar Freire”.

Já Facundo, que inaugurou recentemente dois bares na região, o Z Carniceria e o Volt, acredita que a rua melhorou muito nos últimos anos. “Antes a zona de prostituição prevalecia sobre os clubes de música. Hoje acho que a coisa está mais equilibrada. Quando eu cheguei percebi que aquela região se tornaria uma zona de entretenimento”.

Youssef acreditava que a badalação da rua iria com o tempo gerar uma mudança no perfil da Augusta. “Achava que viriam bares chiques e restaurantes bacanas ou redes de fastfood e com o tempo ela se enquadraria nos padrões convencionais. Mas isso não está acontecendo. Parece que as coisas se equilibraram e hoje as novidades da rua e da região convivem com seu lado mais cult e parecem depender disso para fazer sucesso”, diagnostica.

Em meio a todo esse turbilhão cultural, um dos personagens mais interessantes da Augusta acompanhou os altos e baixos da rua nos últimos 55 anos. Maurice Plas, o famoso alfaiate francês da loja que leva seu sobrenome, sente saudade da época em que as pessoas faziam compras nas lojas de rua. “Hoje dificilmente senhoras ricas vão baixar aqui por causa das casas noturnas, mas continuarei tocando meu trabalho, sempre fazendo novos modelos de chapéus”, conta.

Onde mais seria possível ver uma moça só de calcinha e um rapaz completamente nu andando no meio da pista? Em uma típica garoa do inverno paulistano e sob um frio de 8ºC, a Augusta foi palco de cenas incomuns a qualquer outro lugar. “Em julho de 2006 eu e meu amigo estávamos voltando bêbados e decidimos, num ato insano, tirar a roupa e descer a rua caminhando na faixa amarela. Foi uma noite épica. As pessoas acharam que era uma performance, até os policiais pararam para nos ver passar”, conta entre risos a atriz e moradora da região, Eveline Maria.

O ato acabou levando-lhe ao hospital por conta de uma inflamação na garganta, mas simboliza a aura que circunda principalmente o lado central do logradouro.

“Acredito que daqui a dois anos esse equilíbrio encontrado hoje no Baixo Augusta entre prostituição e zona de entretenimento se desfaça e a região se torne realmente uma zona de entretenimento como já foi a Vila Olímpia, os Jardins e a Vila Madalena”, aposta Facundo.

“Essa rua é como eu costumo brincar com os meus amigos: o Baixo Augusta é a Palestina, o outro lado é Israel e a Paulista, a faixa de Gaza”, compara o dono do Vegas. Felizmente, sem guerras.