quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A “nova” ditadura


Por Léo Marques


Desde a Grécia antiga, os Deuses vêm sendo retratados com corpos perfeitos, com músculos precisamente definidos. Essa aparência musculosa lhes dava um equilíbrio não só do corpo, mas do seu poder espiritual, visto que representavam a religião da época. Já o corpo feminino ao longo da história adquiriu várias formas, mas o masculino quase sempre foi o mesmo dentro da cultural ocidental.

Ao longo desses milhares de anos o homem buscou a perfeição anatômica nas artes que produzia e isso se refletiu nas pessoas comuns do ocidente nos últimos 30 anos do século XX. Só com o modernismo é que essa forma de representação tomou outros rumos. Foram criados novos conceitos, novas técnicas e a arte adquiriu outra intencionalidade, já que a representação perfeita do ser humano e da natureza já era feita pela própria fotografia.

Corpo perfeito é significado de boa saúde. É dessa forma que nosso inconsciente trabalha, apesar de nem sempre ser assim. Para alcançar essa bela forma muitas pessoas sacrificam até a própria saúde usando de artifícios como anabolizantes, hormônios de crescimento ou remédios para emagrecer. É a ditadura do corpo.

O Rio de Janeiro é o nosso melhor exemplo. Lá, essa ditadura é muito presente entre os jovens. Aqueles que não fazem parte dessa legião de “modelos” sofrem algum tipo de discriminação por parte da sociedade que cultua o corpo “perfeito”. As praias cariocas são as vitrines dessa moda que, na verdade, não nasceu a pouco tempo, ela começou a surgir com a arte grega para representar seus Deuses.

Na história da mulher ocidental o significado de corpo saudável já foi ser gordinha, ser baixinha, não ter seios grandes, tudo isso muito presente nas pinturas e esculturas que retratavam as modelos da época. Hoje, o que vemos é justamente o contrário, a valorização da magreza na mulher é tão grande que chega a desencadear doenças como bulimia nervosa, gerando, entre outros fatores, fraqueza nos ossos e depressão.

As academias de ginástica estão repletas de clientes. O Brasil só perde em números para os americanos. O Homo sapiens sapiens ocidental sempre valorizou o formato do corpo e sempre irá valorizar, afinal, em nossa sociedade "futilista", costumamos julgar primeiro a forma, depois o conteúdo.

5 comentários:

Helder Thiago Maia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Helder Thiago Maia disse...

a diferença é que na grécia... o culto ao corpo não era nada sem o desenvolvimento intelectual. ao lado dos belos corpos de homens gregos encontravamos homens que eram realmente cultos.

a nossa sociedade aproveitou-se, de um arremedo da cultura helenica. hoje temos homens lindos e vazios. para não chamar de burros mesmo!

adianta alguma coisa?

Unknown disse...

Otimo texto! Esse é o reflexo da nossa atual sociedade... um enrome culto ao corpo que substitui o culto à arte, leitura, cinema...
Parece que algumas pessoas malham o corpo e o cérebro encolhe!
Parabéns pelo blog!
abraço!

N. disse...

E temos ditadura de tantas outras coisas... mas essa é uma questão importante! a forma física tem sido peça chave para as relações de qualquer gênero na nossa sociedade contemporânea. no fundo não sabemos mesmo é como lidar com as diferenças e resolvemos padronizar nossas vontades, desejos, conceitos. a vonta de ser/estar incluído tem excluido muitos.

o que fazer além de perceber e entender isso? como enfrentar uma padronização e promover a beleza do diverso?

pra mim essas são grandes questões.

desculpe invadir assim, mas é que gostei muito da forma como você escreveu e me deu vontade de tecer essas palavras.

parabéns!

Cadu Oliveira disse...

A Religião dos Músculos também chegou a Salvador, Léo. Daí me pergunto: haverá "salvação" para aqueles que não têm barriga de tanquinho? (risos). Porque se for assim, acho que vou passar a eternidade ao lado de Hades... Abraço!