sábado, 9 de fevereiro de 2008

"Meu nome é desafio"


Conhecido pelo seu personagem no filme Ó pai ó, Lyu Árison vem demonstrando um talento nato no teatro. O ator e dançarino continua a fazer o papel da travesti Yolanda nos palcos. Atuando desde os oito anos, Lyu vive uma boa fase profissional. Em junho ele começa a gravar o seriado global que leva o mesmo nome do longa que o consagrou e tem planos de atuar numa produção internacional.

O Traficante de Informação fez uma entrevista com o artista pelo telefone. Veja o resultado dessa conversa.

Léo Marques - O que veio primeiro em sua vida, a dança ou o teatro?

Lyu Árison - Os dois surgiram ao mesmo tempo. Comecei fazendo dança aos oito anos de idade. Saia da Base Naval de Aratu e ia até o antigo Viva Bahia, no Pelourinho, que hoje se chama Balé Folclórico da Bahia. Meu professor, o José Carlos Arandiba, sempre me dizia que todo bailarino tinha que saber cantar, dançar e atuar. Por isso digo que os dois surgiram ao mesmo tempo em minha vida.

LM – Quando o Bando de Teatro Olodum começou a fazer parte da sua história?

LA - O convite para atuar no Bando do Teatro Olodum veio depois do filme Ó pai ó. Eu fui convidado pelo Sergio Braga para poder fazer a personagem Yolanda. Alguns atores homens tinham feito teste para o papel, mas Sergio dizia que eles não estavam conseguindo chegar à essência da personagem.

Acredito que eu tenha chegado onde ele queria, já que uma vez, quando estava interpretando Yolanda no teatro, o vi – na época ele já tinha morrido – na platéia aplaudindo de pé. Só consegui enxergar ele, não via mais ninguém.

LM - Você é espírita?

LA - Sou sim.

LM - E o que te motivou a fazer teatro?

LA - Eu sempre gostei de arte, desde criança. E acho que para ser um bom artista, tenho que ser completo, por isso faço tudo que pintar pela frente. Meu nome é desafio.

LM - Você continua encenando na peça Ó pai ó, que está em cartaz no Teatro Vila Velha, mas saiu do Bando de Teatro Olodum. Teve algum motivo especial para essa saída?

LA – Na verdade eu nunca fiz parte do Bando do Teatro Olodum. O pessoal já me convidou para integrar o “bando”, mas tem algumas coisas lá dentro que não gostei. Então prefiro ficar apenas fazendo participação.

LM - Em uma entrevista recente, veiculado no You Tube, você disse que estava fazendo um filme, mas que não poderia dizer o nome. Você continua guardando este segredo? Poderia falar um pouco sobre o seu papel nesse longa-metragem.

LA - Continuo sem poder dizer o nome. O filme é estrangeiro. Eu ia até contracenar com o ator Heath Ledger (personagem do filme Brokeback Mountain que morreu no último dia 22 desse mês). Estava combinado que eu ia fazer o papel de um guerreiro, mas depois da morte do Heath, não sei como vão ficar as filmagens.

LM - E como surgiu o convite para o filme?

LA - O diretor do filme me convidou através da Monique Gardenberg (diretora do Ó pai ó). É provável que as gravações comecem no final do ano.

LM - Você tem vontade de fazer novela?

LA - Quem não tem vontade? Eu quero fazer de tudo, dançar, atuar, tocar. Eu vivo para a arte.

LM - Ó pai ó vai ter um seriado. Quando começam as gravações?

LA - As gravações estão marcadas para junho, mas estou proibido de dar informações sobre isso.

LM - O que você acha que mudou depois de fazer a travesti Yolanda, neste filme?

LA - O reconhecimento. Depois de 20 anos fui reconhecido pelo meu trabalho.

LM - Houve muito assedio nas ruas? Como você lidou com isso?

LA - Ouve um pouco de exagero até. Às vezes tenho que sair disfarçado para ninguém me reconhecer. Mas não gosto dessas besteiras, sou do povo, gosto de andar livremente. Claro que a gente tem que ter paciência e jogo de cintura, afinal, estamos aí para isso. Fico muito feliz por ser reconhecido pelo meu trabalho.

LM - Depois do filme Ó pai ó, muita gente passou a confundir o personagem (travesti) com Lyu?

LA – Muitas pessoas confundem sim. Muita gente, quando me vê na rua, não me chama pelo meu nome, chama pelo personagem. Eu costumo frisar que Yolanda é apenas um papel, Lyu é que é o ator.

LM - A temporada de verão de Ó pai ó está terminando. Você vai continuar fazendo o papel de Yolanda nas próximas temporadas?

LA - Vou sim. Enquanto tiver Ó pai ó, estarei fazendo o papel de Yolanda. No mês de fevereiro ainda temos dois finais de semana de apresentações, uma no dia 16 e 17, e a outra no dia 23 e 24.

LM - Gostaria de deixar alguma mensagem?

LA - Esse mundo precisa de paz. E aqui no Brasil precisamos de políticos mais comprometidos com a população. Só vejo roubalheira.

2 comentários:

Juracy dos Anjos disse...

Sensacional. Como é bom ter um blog com informações varidas e bom conteúdo. A entrevista com Lyu está inclível, redonda, gostosa de ler. Parabéns!

Bocadinho de prosa disse...

Olá Léo,
recebi o seu comentário. Obrigada pela atenção em ler o meu blog e obrigada também pelas críticas. A publicação dos meus textos são pra isso mesmo, pra gerar discussões e debates.Mas só pra te esclarecer também: quando você diz "faltou mostrar pra quê veio", a intenção dos meus textos é narrar alguns acontecimentos que ocorrem durante o meu dia-a-dia. São histórias simples, de pessoas simples, que passam por nós a todo momento. O texto veio pra mostrar isso, pra mostrar esse universo. O universo do centro de S. Paulo, universo de um salão de cabeleleiro simples e dos anseios e pensamentos de gente comum, assim como eu e vc.
Bom, espero que continue visitando meu blog sempre que puder. Vou ler seus textos depois e comento também.
Abraços,
Eny