domingo, 24 de fevereiro de 2008

Paixão onipresente















Por Léo Marques

O brasileiro, pelo menos é o que dizem as más línguas, é apaixonado por três coisas: futebol, mulher e cerveja. As propagandas da bebida não cansam de explorar o tripé. Quando bate aquele calor, é a ela que muitas vezes recorremos. Nos casamentos, aniversários, batizados, Natal, Ano Novo, show ou nos finais de semana num barzinho. Ela está em todas as comemorações ou numa simples roda de amigos. Mas de que é feita mesmo a cerveja?

A composição básica possui três elementos: o malte, o lúpulo e a levedura. Esse composto é conhecido por Lei da Pureza Alemã que existe na Alemanha desde 1516, criada pelo Duque Guilherme 4º, na Bavária. Ela proíbe a utilização de qualquer ingrediente que não esteja entre os três citados acima e a água.

Mas no Brasil, além dessas matérias-primas, as grandes cervejarias utilizam milho e arroz na composição da bebida. Isso é um dos artifícios usados para baratear o custo. Esses fabricantes ainda usam conservantes ou estabilizadores de espuma. Dessa forma, o preço de cada cerveja sai das fábricas por R$ 0,60 a garrafa. Até chegar a nós, consumidores, há alguns acréscimos tarifários ao longo do caminho.

Segundo o Sindicato Nacional das Indústrias de Cerveja, o País possui a quinta maior produção do mundo, com 8,5 bilhões de litros/ano, perdendo apenas para a China (27 bilhões de litros/ano), Estados Unidos (23,6 bilhões de litros/ano), Alemanha (10,5 bilhões de litros/ano) e Rússia (9 bilhões de litros/ano).

Apesar dessa produção e consumo elevados, chegando a 47,6 litros/ano por habitante, o brasileiro conhece pouco sobre a cerveja.

Infelizmente a fabricação do Brasil não está entre as melhores do mundo. Três nações dividem esse posto: a Alemanha, a Bélgica e a Inglaterra. “Todas elas são bem diferentes umas das outras, e todas são maravilhosas”, diz o cervejólogo Edu Passarelli. Por ser a cerveja alemã a mais conhecida do País e eles serem grandes consumidores de lagers (família do estilo pilsen), o brasileiro tende a achá-la melhor. “Mas conhecendo um pouco mais das outras duas, veremos que todas possuem grandes produtos”, complementa.

Edu, que é formado em gastronomia pela UniFMU (Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas), em São Paulo, e especialista em Gestão de Negócios de Serviços de Alimentação pelo SENAC desvenda ainda um outro questionamento recorrente entre os apreciadores da “gelada”: a diferença entre o chopp e a cerveja. “O chopp nada mais é do que uma cerveja que não foi pasteurizada, ou seja, engarrafada. Está é uma denominação que praticamente só é utilizada no Brasil. Podemos ter “chopp” de diversos estilos de cerveja, mas o mais comum vem do estilo pilsen”.

As diferenças na bebida não param por aí. Apesar do tipo mais conhecido ser a dourada, a cerveja escura também é bastante consumida no Brasil. Inicialmente, a variação de cor ocorria devido à torrefação dos maltes utilizados na fórmula. Hoje, as grandes cervejarias costumam utilizar caramelo de milho para escurecer. Isso acaba adocicando as cervejas escuras. Mas as variações na tonalidade da bebida não se restringem a esses dois estilos. Existem ainda as vermelhas, marrons e amarelas.




Mas a gelada precisa ser tão fria assim? Edu Passarelli acha que não. Para ele, a temperatura ideal depende muito do estilo da cerveja. “O frio inibe a nossa percepção de aromas e sabores, por isso é melhor optar por uma temperatura que varia entre 2°C a 5°C”. Uma pilsen de boa qualidade deve ser consumida entre 2°C e 4˚C. Já uma belgian ale, por exemplo, pode chegar a 10˚C.

Apesar da baixa qualidade na produção das cervejas mais consumidas nacionalmente, o Brasil possui boas microcervejarias que aplicam a Lei de Pureza. Muitas delas estão localizadas no sul do país, numa região apelidada de Vale das Cervejas Artesanais, em Santa Catarina. O aumento da importação da bebida também faz com que o consumidor tenha a oportunidade de provar o verdadeiro sabor dessa que é a paixão dos brasileiros: a cerveja.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Bom, fiquei muito surpreso e feliz quando soube que tinha ganhado dois selos de recomendação para o meu blog. Agradeço ao Ricardo Cazarino pela indicação. Vou repassar para três pessoas. Dentre elas o próprio Ricardo. Não como forma de agradecimento, mas pelo simples merecimento. O blog dele é show, merece ser lido e comentado.





Indicados

Palavras sem Fronteiras

Mind Walk

Meu mundo em Movimento

sábado, 9 de fevereiro de 2008

"Meu nome é desafio"


Conhecido pelo seu personagem no filme Ó pai ó, Lyu Árison vem demonstrando um talento nato no teatro. O ator e dançarino continua a fazer o papel da travesti Yolanda nos palcos. Atuando desde os oito anos, Lyu vive uma boa fase profissional. Em junho ele começa a gravar o seriado global que leva o mesmo nome do longa que o consagrou e tem planos de atuar numa produção internacional.

O Traficante de Informação fez uma entrevista com o artista pelo telefone. Veja o resultado dessa conversa.

Léo Marques - O que veio primeiro em sua vida, a dança ou o teatro?

Lyu Árison - Os dois surgiram ao mesmo tempo. Comecei fazendo dança aos oito anos de idade. Saia da Base Naval de Aratu e ia até o antigo Viva Bahia, no Pelourinho, que hoje se chama Balé Folclórico da Bahia. Meu professor, o José Carlos Arandiba, sempre me dizia que todo bailarino tinha que saber cantar, dançar e atuar. Por isso digo que os dois surgiram ao mesmo tempo em minha vida.

LM – Quando o Bando de Teatro Olodum começou a fazer parte da sua história?

LA - O convite para atuar no Bando do Teatro Olodum veio depois do filme Ó pai ó. Eu fui convidado pelo Sergio Braga para poder fazer a personagem Yolanda. Alguns atores homens tinham feito teste para o papel, mas Sergio dizia que eles não estavam conseguindo chegar à essência da personagem.

Acredito que eu tenha chegado onde ele queria, já que uma vez, quando estava interpretando Yolanda no teatro, o vi – na época ele já tinha morrido – na platéia aplaudindo de pé. Só consegui enxergar ele, não via mais ninguém.

LM - Você é espírita?

LA - Sou sim.

LM - E o que te motivou a fazer teatro?

LA - Eu sempre gostei de arte, desde criança. E acho que para ser um bom artista, tenho que ser completo, por isso faço tudo que pintar pela frente. Meu nome é desafio.

LM - Você continua encenando na peça Ó pai ó, que está em cartaz no Teatro Vila Velha, mas saiu do Bando de Teatro Olodum. Teve algum motivo especial para essa saída?

LA – Na verdade eu nunca fiz parte do Bando do Teatro Olodum. O pessoal já me convidou para integrar o “bando”, mas tem algumas coisas lá dentro que não gostei. Então prefiro ficar apenas fazendo participação.

LM - Em uma entrevista recente, veiculado no You Tube, você disse que estava fazendo um filme, mas que não poderia dizer o nome. Você continua guardando este segredo? Poderia falar um pouco sobre o seu papel nesse longa-metragem.

LA - Continuo sem poder dizer o nome. O filme é estrangeiro. Eu ia até contracenar com o ator Heath Ledger (personagem do filme Brokeback Mountain que morreu no último dia 22 desse mês). Estava combinado que eu ia fazer o papel de um guerreiro, mas depois da morte do Heath, não sei como vão ficar as filmagens.

LM - E como surgiu o convite para o filme?

LA - O diretor do filme me convidou através da Monique Gardenberg (diretora do Ó pai ó). É provável que as gravações comecem no final do ano.

LM - Você tem vontade de fazer novela?

LA - Quem não tem vontade? Eu quero fazer de tudo, dançar, atuar, tocar. Eu vivo para a arte.

LM - Ó pai ó vai ter um seriado. Quando começam as gravações?

LA - As gravações estão marcadas para junho, mas estou proibido de dar informações sobre isso.

LM - O que você acha que mudou depois de fazer a travesti Yolanda, neste filme?

LA - O reconhecimento. Depois de 20 anos fui reconhecido pelo meu trabalho.

LM - Houve muito assedio nas ruas? Como você lidou com isso?

LA - Ouve um pouco de exagero até. Às vezes tenho que sair disfarçado para ninguém me reconhecer. Mas não gosto dessas besteiras, sou do povo, gosto de andar livremente. Claro que a gente tem que ter paciência e jogo de cintura, afinal, estamos aí para isso. Fico muito feliz por ser reconhecido pelo meu trabalho.

LM - Depois do filme Ó pai ó, muita gente passou a confundir o personagem (travesti) com Lyu?

LA – Muitas pessoas confundem sim. Muita gente, quando me vê na rua, não me chama pelo meu nome, chama pelo personagem. Eu costumo frisar que Yolanda é apenas um papel, Lyu é que é o ator.

LM - A temporada de verão de Ó pai ó está terminando. Você vai continuar fazendo o papel de Yolanda nas próximas temporadas?

LA - Vou sim. Enquanto tiver Ó pai ó, estarei fazendo o papel de Yolanda. No mês de fevereiro ainda temos dois finais de semana de apresentações, uma no dia 16 e 17, e a outra no dia 23 e 24.

LM - Gostaria de deixar alguma mensagem?

LA - Esse mundo precisa de paz. E aqui no Brasil precisamos de políticos mais comprometidos com a população. Só vejo roubalheira.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Malê Debalê além do carnaval


O Malê Debalê é uma dos blocos afros mais antigos de Salvador. Fundado em 29 de março de 1979, a entidade nasceu no bairro de Itapuã com o intuito de ajudar a população carente local e de levar o carnaval a um lugar distante do centro. O movimento negro, que começava a se fortalecer na época, foi o principal motor para o crescimento do Malê. O festejo de Momo é o momento de consagração para o bloco. A dança e vestes traduzem o tema escolhido. Neste carnaval, os 120 anos da Lei Áurea são lembrados de forma crítica, já que a libertação dos escravos não foi seguida de uma contrapartida governamental de ajuda àquelas pessoas.

Para falar um pouco sobre a história e os projetos sociais realizados pelo Malê Debalê, o Traficante de Informação conversou com um dos fundadores e vice-presidente do bloco, Miguel Arcanjo.



Léo Marques - Como surgiu o Malê Debalê?

Miguel Arcanjo - A primeira proposta era criar uma entidade dentro de Itapuã que não só representasse o bairro no carnaval de Salvador, mas também como se fosse um agente de ação do movimento negro na Bahia. Aí começamos a juntar elementos físicos e culturais para criar a base para o surgimento, o fortalecimento e, conseqüentemente, a sobrevivência do Malê Debalê.

LM – Pelo Ilê Aiê ter sido o primeiro bloco afro, podemos dizer que influenciou o Malê?

MA - De uma certa forma sim. Nós já fazíamos parte de movimentos negros muito antes do Ilê Aiê. Havia muita influência americana dos panteras negras, o movimento Black Power e o soul music.

Mas nessa época também descobrimos que a metodologia e a prática americana não eram a do negro brasileiro. Então pegamos algumas coisas que ajudariam nesse fortalecimento porque nossa simbologia de resistência se resumia única e exclusivamente a Zumbi dos Palmares.

LM - Vocês têm um trabalho social em Itapuã. Fale um pouco sobre ele.

MA - As comunidades pobres, leia-se comunidades negras, são muito carentes. Mas quando a gente fala sobre carência, não é de produtos de consumo, é a de referências. É ter, por exemplo, uma pessoa ou um líder na comunidade à quem se espelhar.

No caso de Itapuã, nós nos tornamos a referência, embora nosso poder seja imensamente pequeno para desenvolver grandes ações comunitárias. Buscamos contribuições voluntárias de profissionais liberais, de outras ONGs e de órgãos do governo.

Não estamos lá para formar artistas. A responsabilidade maior é formar cidadãos e melhorar a auto-estima deles, incentivando-os a irem à luta.

LM - Mas como vocês colocam isso em prática?

MA - Nós temos um curso de percussão, dança e capoeira. Isso é o básico. Fora isso, fizemos convênios com a Secretaria Municipal de Educação (resgate cultural negro desenvolvido dentro da rede pública municipal de ensino) e com o CEFET (informática). Recentemente também demos andamento a um trabalho com a Secretaria de Combate a Pobreza, com apoio do Estado e com a UFBA, onde formamos profissionais de dança num curso de extensão. Buscamos outros convênios nacionais e internacionais.

LM - Me fale sobre o carnaval desse ano. Qual será o tema?

MA - Nós vamos levar a avenida um tema interessantíssimo: “Áurea, 120 anos, e nós?”. É um questionamento que fazemos sobre a abolição da escravatura. Vamos tentar mostrar que a escravidão até nossos dias é algo forjado e que poucos perceberam. Os negros foram simplesmente jogados na rua. Não sabiam ler, escrever, não tinham profissão, foram escravos sempre e só sabiam servir ao senhor. Nessa situação, era sempre explorado. A história foi se proliferando até chegar ao ponto em que chegamos atualmente. E aí a gente pergunta: a partir de quando essa lei vai começar a valer mesmo?

Apesar de ser um tema político, ninguém vai pra rua com cartazes e faixas. Dentro dessa festa vamos mandar o nosso recado de forma poética, colorida e linda.

LM - Como é escolhida a rainha do Malê Debalê?

MA - O Malê é o único bloco que escolhe a rainha e o rei também. É um trabalho feito com o mesmo galmour de quando eram eleitos os reis e rainhas africanos. É uma festa com essa mistura afro-latina-baiana. Temos 15 candidatas e 10 candidatos que são escolhidos na sede do Malê.

LM - Baseado nesse tema, como vocês imaginaram a fantasia?

MA - Nós temos o nosso artista plástico Ives Coalha, que faz a estamparia do tecido. São 15 alas. Cada uma fica com uma temática e desenvolve dentro da sua ala roupas características que estejam inseridas no contexto da mensagem que queremos passar.

LM - Quais serão os dias que o Malê desfila e onde?

MA - Vamos sair na sexta com o Malê e outras tribos. Nesse dia sai o pessoal das alas e da banda. É o dia da festa deles. No sábado e na segunda, o Malê é tradição. Vem completo, com suas alas, fantasias, banda percursiva, cantores, tudo como manda o figurino.

No domingo tem o Malêzinho de Itapuã. Pegamos a criançada e os adolescentes com quem desenvolvemos nosso trabalho social durante todo o ano, e os colocamos no bloco durante o domingo em Itapuã.

LM - Foi difícil conseguir patrocínio este ano?

MA - Patrocínio para bloco afro sempre foi uma coisa um tanto truncada. Ninguém se preocupa se um artista famoso pegou R$ 5 milhões, mas se incomodam se o Malê levar R$ 500 mil. Nós temos todo o trabalho social que já te disse aqui, mas na hora de transformar isso em patrocínio, não acontece. É como se nós fossemos os menores, quando nós somos os maiores.

A Petrobras vai dar esse ano R$ 1,2 milhão para os blocos do pólo de entidades negras. Malê, Ilê, Olodum, Muzenza, Cortejo Afro, Mocambi e Negroides. São sete entidades.

LM – Um milhão e duzentos mil reais para dividir entre sete blocos? Não é pouco, não?

MA - Exatamente. Só o carnaval do Malê Debalê está orçado em R$ 600 mil. Isso a gente doando praticamente 90% das fantasias, sendo que pagamos, assim como os outros artistas, os mesmo 70, 80 mil por um trio.

E ainda tem uma diferença. Enquanto a fantasia do Malê vem com pano trabalhado, todo pintado, com sandália e tudo o mais, custando individualmente R$ 50, um abadá custa R$ 10. Mesmo com todas essas diferenciações, o patrocínio chega primeiro lá.

LM - Então vocês estão insatisfeitos com o valor que chegou até vocês?

MA - Meu pai tinha um ditado popular que dizia o seguinte: "antes um olho curto do que cego de tudo". Mas não podemos dizer que estamos satisfeitos. Não estamos. O que consideramos é a intenção do novo Governo de corrigir isso de uma forma gradativa. Se o pensamento for esse, está tudo bem.

domingo, 13 de janeiro de 2008

“Uso porque gosto e me dá muito prazer” - Último Capítulo

Nos primeiros quatro meses de 2007, já aos 21 anos, ela teve contato com outras drogas, fora a maconha e a cocaína. Foi quando experimentou o ecstasy e o LSD. Luana tem mais medo dessas duas drogas do que das que usava até então. Seu maior receio é a propriedade sintética que elas possuem e o fato de serem fabricadas para gerar cada vez mais dependência.

“Com essas outras drogas, você tem alucinações. Uma vez eu inventei de usar LSD em casa e vi a parede e o guarda-roupa vindo em minha direção, como se estivessem me imprensando. Tive que andar pela casa para ver se passava. Achei aquilo horrível”.

Como os preços variam, normalmente, o comprador tem mais de uma fonte para conseguir a droga. Para ter acesso à cocaína, ela vai à Ladeira da Barra, trecho nobre do bairro da Barra. Um conhecido rico, morador de um dos altos e luxuosos prédios do local, é o seu fornecedor. Ele vende um grama por 20 reais. Uma certa vez, Luana chegou a comprar 22 gramas por 400 reais, ganhando dois gramas de brinde.

No caso da maconha, há mais oferta em lugares conhecidos, até porque é uma droga usada por ela há oito anos. O modo considerado menos perigoso e mais confortável é o disk drogas. Ou seja, o cliente liga e pede a quantidade que quiser. O “empresário” da droga a leva até a casa da pessoa, sem nenhum custo adicional e de uma forma totalmente discreta.

A cannabis também pode ser comprada na mão de amigos, de vizinhos, de uma forma também tranqüila e segura. A boca de fumo, na favela, é uma das alternativas usadas por Luana quando as outras duas opções estão sem a mercadoria. Essa forma é evitada a qualquer custo, mas já ocorreu por três ou quatro vezes. A vendedora, uma velha, atende seus clientes reservadamente, complementando a renda da família com a venda de maconha a R$ 2,50 o cigarro. Há também as da Gamboa e do Calabar, onde Luana já esteve por duas vezes, e encontrou crianças andando armadas nas ruas.

Já outras drogas são mais difíceis de comprar, até porque quem tem o “canal” não diz. Ela tem medo de se deixar envolver e prefere nem saber onde consegui-las. Usa apenas quando está com os amigos, em momentos de festa e sempre de graça.

Contudo, às vezes, ela cansa de usar drogas. Foi o que aconteceu nesse carnaval de 2007, quando viajou para uma capital do Nordeste. Foram 11 dias limpa, como ela mesma fez questão de frisar. Sua decisão levou em conta a falta de vontade em se drogar. Como sabia que se ficasse para o carnaval usaria várias drogas, preferiu curtir o período de um modo diferente, passando uma semana e meia sem fumar cigarro de tabaco, de maconha, sem bebidas alcoólicas e sem cheirar nada.

Não é preciso uma ocasião especial para deixar de usar maconha. O domingo, quando está com os pais, costuma ser saudável, sem nenhuma substância psicoativa. E ela consegue passar o dia bem, sem nenhuma vontade excessiva de usar.

Luana tem uma explicação sobre o que a levou para outras drogas mais pesadas que a maconha. Ela desenvolveu sua própria teoria e acredita que isso foi fundamental para o uso de outras substâncias psicoativas.

“Uma droga acaba levando a outra. Não por achar a outra droga fraca, porque a sensação de uma é completamente diferente da outra. Mas você acaba tendo acesso a outras drogas, e, por conviver com pessoas que usam não só maconha, mas diversos tipos de drogas, acaba se criando uma curiosidade, e saciá-la é fácil, estando nesses ambientes”.

FIM

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

“Uso porque gosto e me dá muito prazer” - Capítulo 7

Atenção, atenção!! Os textos intitulados “Eu uso porque gosto e me dá muito prazer” é uma seqüência, então só vai entender quem ler desde o início. Segundo: É uma história real, é um perfil de uma pessoal real, que fez tudo isso exatamente como está escrito. Terceiro: O texto não é a favor, nem contra o uso de substâncias psicoativas. Eu apenas relato um fato e coloco os prós e os contras dessas substâncias e os motivos que levaram esta jovem (Luana - nome fictício) a usar drogas ilegais. E mais uma coisa. Para aqueles que bradam tanto porque essa jovem usa isso, ou aquilo outro, as bebidas alcoólicas que vocês usam também são substancias psicoativas. A única diferença é que elas são legalizadas. Por sinal, são as que mais matam no mundo. Explicações feitas, vamos dar continuidade ao perfil.


“Uso porque gosto e me dá muito prazer”

Luana estava sentada no sofá da sala da casa de uma amiga e conversava animadamente com os amigos. A casa, cheia, parecia uma festa. Na verdade, era apenas mais uma reunião de fumantes da cannabis. A fumaça exalava pela casa como um incenso, impregnando os tecidos com o cheiro forte e inconfundível da erva.

Os olhos vermelhos se enchiam de lágrimas. Uma das janelas da casa deixava passar um ar tímido. O grupo, reunido em círculo, conversava sobre tudo. Problemas do país, sobre os últimos acontecimentos, sobre as próximas festas, e todos riam, riam muito.

A conversa foi interrompida pelo barulho da campainha. Alguns ficaram temerosos; talvez fosse algum vizinho reclamando do cheiro que saía pela janela, invadia a rua e os apartamentos próximos. Os presentes no local sabiam que não eram os pais da dona do apartamento. Ela morava sozinha, apesar de sua casa sempre estar cheia de amigos e desconhecidos, os quais buscam ali um refúgio seguro e um ponto de encontro da galera.

O rosto encostou no olho mágico para saber quem era. O porteiro não havia interfonado para avisar sobre a subida de ninguém, isso aumentou ainda mais a tensão. Depois de destrancada, a porta foi aberta de supetão, quase como num ato de invasão.

Luana estava no sofá com mais quatro amigas. A garota que acabara de entrar olhou para todos e sorriu, dando um “oi geral” para a galera. Eram todos amigos naquele momento. A ansiedade e a intimidade levaram a “invasora” a entrar na sala um pouco esbaforida.

Em sua mão, ela trazia algo que ninguém sabia o que era e que não foi revelado num primeiro momento. Apenas caminhou em direção às quatro meninas sentadas calmamente no sofá e abriu a boca de cada uma. Como um cachorro a receber vitaminas pela boca, ela abriu o maxilar das amigas e colocou uma pílula na língua de todas.

“Esse é para você. Esse aqui para você. Abre a boca, Luana, você vai gostar. E esse é seu”, dizia a amiga que colocava cada pílula de forma cuidadosa.

Nenhuma das meninas até então estava entendendo o que era aquilo, mas, diante da empolgação da amiga, fizeram o que ela pedia. Todas engoliram a seco um comprimido inteiro de ecstasy.

Luana começou a sentir um fogo brotar em seu corpo. Todo ele havia se transformado em uma grande zona erógena, onde cada toque tinha sua sensação multiplicada. O aumento do apetite sexual era perceptível no corpo. Essa libido acentuada durou algumas horas.

Não foi o caso naquele momento, mas alguns estudiosos, como Milton Santos Lambert, em seu livro “Mitos e Realidade”, dizem que há dificuldades em se alcançar o orgasmo quando se está sob o efeito do ecstasy. No caso dos homens, além desse problema, a substância pode causar alterações na ereção.

Essa foi a primeira das três únicas vezes que Luana usou ecstasy. O ano foi o de 2007, e a “droga do amor”, como é chamada, não a conquistou.

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//Fique atento para o próximo e último capítulo.

sábado, 5 de janeiro de 2008

“Uso porque gosto e me dá muito prazer” - Capítulo 6

A convivência com outros usuários de maconha que, algumas vezes, são também de cocaína, despertou a curiosidade de Luana de experimentar essa droga. Mas o medo de se aventurar por esse caminho mais perigoso a dominava. Não só isso. Antes de surgir essa vontade, ela tinha verdadeira ojeriza a drogas consideradas pesadas. Apesar de sempre ver os amigos as consumindo, ela os criticava e tinha uma péssima visão do hábito.

Mas, na chegada dos seus 20 anos, a curiosidade pela sensação começava a ser mais forte do que essa repulsa. O fato dos amigos usarem e gostarem muito da droga chamou sua atenção. Mas essa vontade vinha acompanhada do medo da dependência, muito retratada em novelas, filmes, livros e reportagens.

Para não correr o risco, ela preferiu se informar antes. Não queria entrar por um caminho obscuro, precisava saber dos detalhes sobre como funciona a cocaína, quais eram os efeitos físicos e psicológicos, e ler relatos de cientistas e usuários, além dos que já tinha ouvido dos amigos.

“Antes de usar qualquer coisa sempre pesquiso muito, afinal, só tenho uma vida e não posso ficar gastando ela de qualquer forma. Meu maior medo antes de cheirar cocaína era por saber que, ao contrário do vício psicológico da maconha, a dependência da cocaína é ocasionada pelo vício químico”.

Na primeira vez em que usou a droga, ela ficou elétrica, agoniada. Após usa-la várias vezes, pôde chegar à conclusão de que – a coisa – é realmente como se pinta. Ela foi percebendo, não só nela, mas também nos colegas e amigos, que, depois da terceira vez que se usa cocaína, o corpo começa a pedir mais. Para controlar essa ânsia, ela estabeleceu momentos e lugares para usar a droga, a fim de não cair na armadilha da dependência. Ela tem consciência de que isso pode acontecer, mas tenta ver o uso da substância como simplesmente uma fonte de prazer, nada mais do que isso, sempre atenta a alguma necessidade que por ventura comece a ficar descontrolada. “Se um dia achar que estou sentindo necessidade, falta daquela droga, que a quero desesperadamente, eu vou parar”, acredita Luana.

A experiência com a droga a fez chegar a outras conclusões. Por exemplo, Luana passou a identificar esta substância psicoativa como anti-social. A reação gerada pela cocaína costuma acelerar o curso do pensamento e o metabolismo. Especialistas dizem que apenas isso não estimula ninguém à solidão. Luana concorda, em parte, mas lança mais argumentos para defender sua tese. Ela relata que o preço alto e a quantidade necessária para que se alcance uma onda satisfatória também são fatores cruciais. Um grama seria ideal para obter o efeito esperado, mas, se dividido, já não causa a mesma sensação e o usuário fica apenas na vontade de cheirar mais. Para não sentir essa necessidade, ela prefere cheirar uma carreira inteira, ou, no máximo, dividir com um amigo. Esse seria mais um motivo para que os usuários prefiram a solidão ou, no máximo, a companhia de apenas uma pessoa.

“Se dividir, vai ficar todo mundo na vontade de cheirar mais. Por isso, é melhor um ficar maluco do que nenhum. Desse jeito, eu sinto a sensação que queria e passo mais tempo sem usar”.

Mas isso vai depender, claro, do extrato social em que a pessoa circula. Se for uma festinha de gente muito rica é possível encontrar pó sendo oferecido na bandeja e ninguém fica regulando quanto cada um vai cheirar. O acesso mais caro e mais difícil à cocaína acaba engendrando formas mais mesquinhas de lidar com a substância. Já a maconha é diferente. O fácil acesso e o preço baixo facilitam os agrupamentos, onde cada um estará com seu cigarro em mãos.

Como não usa apenas nessas festas, Luana costuma ter uma relação mais egoísta com a substância. “Por isso, geralmente, quando eu uso cocaína, prefiro me trancar, ou, no máximo, chamo duas amigas ou amigos para casa de alguém que mora sozinho, e aí a gente fica lá de virote”. Mas quando é preciso voltar para casa, ela toma todo o cuidado possível para que os pais não percebam. “Quando eu preciso, eu cheiro, cheiro, cheiro e depois eu fumo um ‘morrão’, aí fico mais light, chego em casa tranqüila e consigo dormir”.

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//Continua no próximo capítulo