É engraçado como falamos em direitos, em que proclamamos o direito. "Todo mundo tem direitos iguais perante a lei". Creio que seja exatamente justiça o que está faltando para os nossos direitos. Quando olho nas ruas e vejo crianças sentadas nas marquises, fazendo malabares ou vendendo balas, fico pensando o quanto elas já perderam, o quanto elas já deixaram de aprender na escola para aprender nas ruas. Pior ainda para aqueles que optam por ganhar dinheiro não para sustentar seus ossos em pé, comprando alimentos para si e para a família, mas para sustentar o vício e a violência em índices astronômicos.
É interessante como a nossa elite ainda continua branca, cercada em seus castelos com muros cada vez mais altos. Esta mesma elite, ao qual de certa maneira me enquadro, está se isolando e perdendo a paixão pelo contato que tanto marca o povo brasileiro, sofrendo o efeito de uma reação que ela mesma causou.
Para constatar como nossa elite continua branca, basta ir aos desfiles de moda, as boates mais requintadas da cidade, aos bons restaurantes e aos colégios particulares de excelência. Moro numa cidade essencialmente negra, composta por um caldeirão cultural que faz de Salvador um dos locais mais visitados deste país. Mas parece que essa mesma cidade, rica em cultura, fecha os olhos para o que está a sua volta. Continuamos com medo, caminhando com olhares assustados, aflitos e angustiados com o que pode nos acontecer a cada vez que viramos uma esquina.
"Isso é um assalto, me passa tudo mauricinho". Assim nossas elites percebem que apesar dos muros e carros, estamos expostos a sofrer algum tipo de violência a qualquer momento. "Não tenho nada aqui", é o que diz o menino assustado, criado num mundo cercado de proteções. "Me passa tudo, se não eu te furo", e com um golpe no estômago nossa elite vai se acuando e chorando. Não percebe o quanto caminhamos para longe de um convívio pacífico, sem violências. Mesmo sofrendo todos esses pesares, tapamos nossos ouvidos, fechamos nossos olhos e nos trancamos em casa para chorar e esperar mais um assalto.
A segurança só virá com uma maior distribuição de renda, com um apóio aos meninos que representarão o futuro do nosso país. Educação, Educação, Educação. É nessa tecla que temos que bater. Mas não basta enfiar as crianças nas escolas, temos que oferecer um ensino de qualidade e parar de querer concentrar as atenções na ponta do sistema. As universidades servem quase que exclusivamente as nossas elites. Temos que fortalecer as bases do processo, para evitar meninos ignorantes sem perspectiva de vida.
Um comentário:
Leonardo, essa "estória" de contato com o povo é uma absoluta hipocrisia.
A Globo leva para o domingo à tarde no Faustão uma série de pseudo artistas que dizem que o povo é lindo, isso e aquilo, depois entram em suas Mercedes e Volvo.
Mas eu o pergunto: quem não desejaria andar de Mercedes, frequentar somente a cozinha italiana e, quando entediado no final de semana, pegar o primeiro vôo para Bariloche e esquiar um pouco?
A elite continua branca, mas eu lhe asseguro uma coisa: a elite trabalha muito -com exceção das madames, muito belas por sinal -, acorda cedo e não fica em "roda de pagode" ou simplesmente recebendo o Bolsa-família, vale-gás, vale-luz e tantos outros vales que este governo populista inventa. A elite trabalha, produz, abre empresas, tenta se segurar nesta fome do governo que para manter seu clientelismo e fisiologismo falido suga a renda dos cidadãos.
Viver no Brasil é realmente lamentável e triste, por tudo e pelo caminho assistencialista que este país tem levado. Isso sem esquecer que enquanto a Argentina busca parcerias com o Canadá, o chefe deste país tem ido ao fim do mundo perdoar dívidas de ditadores que se mantêm no poder à custa do sangue de inocentes.
As pessoas que conheço e que saíram do nada e chegaram à elite estão lá por um único motivo: muito trabalho. E vamos considerar, ninguém dirige um Volvo por acaso.
Mais coerente que culpar a elite é responsabilizar o governo por não promover políticas sociais de controle da natalidade, de incentivo à leitura, de acesso ao ensino fundamental de qualidade.
Mas o povo prefere o "panes et circenses". Ora, se não fosse assim a TV Cultura teria uma audiência elevadíssima, quando o que observamos é o Caldeirão do Huck com a audiência altíssima e suas "atrações" repugnantes.
Refletir de forma mais profunda sobre as raízes da violência, da pobreza e da diferença de classes ultrapassa o senso teórico comum.
Abs, Alessandro.
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