A cena descrita acima não foi o primeiro nem o último envolvimento dela com a maconha. As drogas, tanto as ilícitas como as lícitas, há muito tempo fazem parte do dia-a-dia da jovem, que hoje tem 21 anos.
Sua relação com substâncias psicoativas não se iniciara naquela fase, mas, sim, num momento em que seu corpo começava a ganhar formas de mulher. A menina, apelidada, pelo irmão e pelos colegas, de Topo Giggio, quando criança – por conta de uma orelha de abano inexistente –, teve um começo de adolescência, digamos, rebelde. Aos 13 anos, Luana tinha pressa em virar mulher. Como as garotas de sua idade, adorava ir a festas e shows sem os pais por perto. Para conseguir tal façanha, tinha de driblar a vigilância deles, que não a deixavam freqüentar festas consideradas para adultos.
Com essa idade, ela já enchia seus pulmões de nicotina, sempre nesses ambientes festivos, onde beber e fumar são regra e não exceção. Até hoje ela não largou o cigarro, assim como o álcool, que começou a consumir nessa época. Mas não só foram experimentos maléficos à saúde que permearam as histórias de sua adolescência. Um ano depois de começar a fumar, Luana conheceu um surfista, e eles começaram a namorar. O garoto, na mesma faixa etária que a sua, lhe ensinou, dentre outras coisas, aquilo que ele amava fazer: surfar.
Tempos depois, quando já havia terminado o namoro, ela enganava os pais dizendo que ia para escola, quando, na verdade, escondia debaixo da farda uma roupa apropriada para o surf. Luana demorava de se arrumar de propósito, para que os pais ficassem atrasados e não pudessem esperá-la. Para isso, ficava no espelho só fingindo que faltava pentear o cabelo. Quando eles deixavam o apartamento, a farda era retirada, e ela seguia para a praia com o vizinho.
Mas foi na época em que namorava com o surfista que Luana teve os primeiros contatos com drogas ilícitas. Ela não sentia nenhuma vontade de experimentar, e quando o namorado usava maconha ela ficava apenas observando, olhando o que ele fazia. Aos poucos, a convivência começou a pesar e a tentação de experimentar havia se tornado irresistível. Mas ela não tinha coragem de fazer aquilo na frente de ninguém, afinal, o medo de passar algum vexame era maior do que a vontade. Para resolver essa questão ela optou por experimentar sozinha, em casa. Conseguir a erva sem que o namorado ou qualquer outra pessoa soubesse era mais um desafio. Luana conhecia apenas uma pessoa de confiança, que morava em seu bairro e que poderia lhe ceder um pouco de marijuana.
A decisão de experimentar foi tomada depois de um veraneio passado na companhia do namorado, numa praia do Litoral Norte. Logo que voltou a Salvador, já com a cannabis em mãos, ela esperou os pais saírem para trabalhar e começou a fumar. Talvez a falta de experiência não tenha deixado o efeito agir da forma esperada e aquele dia passou igual a todos os outros.
Naquela mesma época, pouco tempo depois, ela voltou à casa de praia onde havia curtido suas férias. A volta, motivada por uma festa, foi crucial para um novo contato com a erva. Luana estava bêbada, e a mistura talvez tenha potencializado o efeito. A droga finalmente desencadeou a sensação esperada. As coisas passavam lentamente pela sua vista, como num filme em câmera lenta. Suas pernas começaram a suar e a tremer. A mistura das duas drogas – maconha e álcool – a deixou enjoada. O movimento circular das imagens diante dos seus olhos levou-a a vomitar. Hoje, como ela mesma diz, “criou resistência” e nunca mais vomitou.
Com 17 anos, ela começou a comprar a droga por conta própria e para uso habitual. Até então ela só usava maconha quando estava na roda de fumo com os amigos; aproveitava que o “beck” passava de mão em mão e dava uma “bicada”. Como alguém que cresce, começa a trabalhar e compra suas próprias coisas, ela não queria mais depender de ninguém. A vontade de consumir a cannabis na hora em que bem entendesse, da forma que quisesse, a levou a optar por comprar e guardá-la em casa.
O mesmo vizinho que tinha lhe dado a “massa” para experimentar como amostra grátis pela primeira vez, agora passou a fornecê-la. Talvez uma estratégia de marketing bem pensada, dando amostras gratuitamente para, depois que o consumidor adquirisse o hábito, poder cobrar.
“Considero normal meu consumo ter aumentado. Acho que o ser humano tem uma facilidade de se acostumar muito rápido com as coisas. Hoje eu uso, porque gosto e me dá muito prazer”.
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//Continua no próximo capítulo
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