quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

“Uso porque gosto e me dá muito prazer” - Capítulo 3


Os pais de Luana, casados há 28 anos, tiveram três filhos: uma menina com a mesma idade do casamento; um menino, de 23 anos; e Luana, com 21. A mãe, a mais velha do casal, tem 54 anos e trabalha no Diário Oficial. O pai, com 49 anos, é psicólogo e trabalha no setor de recursos humanos de um colégio conceituado de Salvador.

A filha caçula costuma dizer que eles são muito caretas e preconceituosos. O estilo tradicional dos dois vem da religião; o pai é evangélico e freqüentador assíduo da Igreja Batista. Laura absorveu a religião do marido logo que se casaram, mas ainda hoje não gosta e quase não freqüenta a igreja. Por parte do pai, Luana tem um tio e um primo que são pastores.

Apesar de não ter uma religião definida, ela costuma, uma vez ou outra, acompanhar o pai em um dos cultos. A iniciativa é muito mais para agradá-lo do que por vontade própria. Assim como a mãe o fez, Luana acha que, se tivesse que escolher uma religião, escolheria a do pai. A Bíblia é, para ela, o ensinamento de Cristo, e tudo o que está escrito, ou pelo menos quase tudo, é a absoluta verdade. O irmão já foi freqüentador assíduo da igreja, mas há algum tempo perdeu o gosto pela religião.


A pouca liberdade dispensada por Laura e Marcos acaba levando a caçula a fazer o que quer sem que os pais saibam. “Meu pai e minha mãe sempre pegam muito no meu pé. Eles não gostam que eu vá dormir fora de casa. Eu fico revoltada, porque perco vários ‘reggaes’ por causa disso. Dia de semana mesmo, eles não me deixam sair de casa para ir a nenhuma festa. Por isso, tudo que tenho que fazer, até hoje, faço escondido”.


Apesar dessa aparente rigidez, Marcos é um homem sentimental. Ele perdeu a mãe quando tinha 14 anos. Por ser muito apegado a ela, momentos ligados aos sentimentos familiares quase sempre representam choro. São datas como Dia dos Pais, das Mães e Natal, todas regadas a muitas lágrimas.


Passado o primeiro susto, aquele do dia em que a mãe descobriu maconha no armário, Luana começou a levar a coisa de uma maneira menos preocupada. Para ela, seus pais sabem que manteve o uso, já que, depois daquele primeiro flagra, a mãe encontrou a droga mais umas três vezes no guarda-roupa da filha.


“Eles vão acabar se acostumando com a idéia”, crê Luana.


Laura, apesar do aparente cansaço nessa luta, continua a resmungar, a dar conselhos e chega, até mesmo, a procurar reportagens sobre drogas e piercing – Luana tem um na língua – para que a filha leia. Mas o tom ameaçador vem diminuindo a cada nova descoberta.


“Da última vez, ela só fez perguntar: você ainda não parou?”.

A ousadia é tanta que ela cansa de chegar em casa “fumada”. Mas essa atitude não chega a comprometer sua sobriedade. Ela, muitas vezes, fuma antes de voltar da faculdade, porém não o suficiente para bater onda. Além disso, Luana procura disfarçar não falando muito.

“Chego em casa, converso e fico de boa, e ninguém fica sabendo que estou doidona”.


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// Continua no próximo capítulo

Um comentário:

Escrevendoespanando.blogspot disse...

Bacana a estória de Luana, manda os próximos!